Epistemologia Hídrica
O que segue é uma proposta sobre como
estruturarmos o modo como percebemos e organizamos os fenômenos do mundo, ou
seja, como devemos pensar sobre o mundo e sobre nossas ações. Assim sendo,
trata-se de uma proposta epistemológica.
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- Fronteiras e Margens
Para qualquer assunto que direcionarmos nossa atenção, faz-se necessário checar os limites dos limites estabelecidos. Trata-se de uma postura de constante vigilância das fronteiras.
Isso significa que devemos sempre checar os limites do que entendemos, acreditamos ou defendemos. Isso inclui alargá-los, quando mostram-se sufocantes e não respondem mais ao avanço do pensamento coerente; observá-los mais atentamente, quando nossas práticas não respondem ao tamanho do arcabouço teórico que embasaram tal limitação; e diminuí-los, quando os limites são gerados por teorias que mais oprimem e violentam do que ordenam.
Tal movimento estabelece as fronteiras entre aquilo que aceitamos estar dentro do curso do pensamento correto e da ação correta e aquilo que deve ficar à margem.
Sendo assim, as fronteiras (e, portanto, o que deve estar à margem) possuem certo
caráter absoluto.
2 - Meandros
Por outro lado, ainda que conjuntamente, devemos também checar sempre se no interior das fronteiras com caráter absoluto sabemos agir com a máxima capacidade de pensamento relacional.
Isso sugere que a delimitação das fronteiras (e, portanto, a definição das margens) nem sempre é óbvia e necessita que estejamos sempre atentos a cada situação particular para saber a melhor atitude a ser tomada a cada momento (por isso, educar a atenção é fundamental). As fronteiras limitam uma quantidade variada de meandros.
Aos meandros não é permitido ultrapassar as fronteiras, invadindo as margens. Caso a tensão entre os movimentos meandrantes e as fronteiras torne-se evidente, deve-se analisar
novamente os limites e, se necessário, ampliá-los ou mudá-los de lugar, incluindo regiões anteriormente marginais. Caso contrário, corrigir os meandros.
Dessa forma, evita-se a prisão dos falsos dualismos, das hierarquias falaciosas e das absolutizações violentas, sem, com isso, cair-se num relativismo igualmente violento, no qual,
por exemplo, erros éticos poderiam ser relativizados ou aprovados.
3 - Encontro das águas
Pode acontecer que dois rios se encontrem.
Nesse caso, é possível que suas águas misturem-se, unindo-se, ou que eles
dividam o mesmo curso sem perderem suas identidades - vide Rio Negro e Rio
Solimões. Tal escolha demanda sabedoria. Sabedoria demanda atenção.
4 - Relevo
Um rio pode simplesmente
descer uma colina ou montanha, seguindo o fluxo do relevo. Contudo, isso pode
inundar o vilarejo abaixo.
5 - Existência do Oceano
Cursos de rio podem
encontrar o Oceano.
O Oceano também possui fronteiras, mas são longínquas e apenas delimitam a totalidade de seu território.
É preciso saber reconhecer a existência do Oceano, ainda que se nade em rios.
O oceano não nega a existência dos rios e, para
saber submergir no Oceano, sobrevivendo, é preciso antes saber neles nadar.
6 - Um cuidado contemporâneo
Retirar as fronteiras que
limitam meandros não forma um Oceano. No máximo, um brejo.
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