Aritmética básica de uma tragédia (2019)

Talvez seja impossível comparar ou matematizar sofrimentos. Podemos quantificar as vítimas, mas dificilmente matematizar o sofrimento em si. Para o ser vitimado por sofrimentos pesados, seu sofrimento é total, pleno: o ser se torna repleto de sofrimento.

Assim sendo, com o intuito de não menosprezar qualquer sofrimento advindo de nossa natureza violenta e opressiva, escolhi não apresentar aqui quantificações sobre números de vítimas de processos de violência e opressão realizados por humanos contra humanos, mas apenas revelar a grandiosidade quantitativa da opressão e da violência das quais os animais não humanos são vítimas, considerando que tal sofrimento, perpetrado pelos humanos, é, comumente, socialmente ocultado.

Vamos aos números: a humanidade abate aproximadamente 100 bilhões de animais terrestres e mais de um trilhão de animais aquáticos por ano apenas para o consumo de suas carnes.

Ou seja, mais de um trilhão de seres capazes de perceber o mundo com algum grau de consciência (capazes de sofrer) são escravizados, torturados e assassinados por ano para que a humanidade possa saciar seu desejo pelo gosto de seus cadáveres.

Além deles, outra imensa quantidade de animais é escravizada, torturada e assassinada para que eles sejam utilizados com vistas a realizar todo tipo de necessidade ou de vontade humanas, como ovo, leite, roupas, medicamentos, testes, entretenimento etc.

Certamente, essa é a experiência de violência mais cruel, abrangente e duradoura executada de maneira intencional pela humanidade. Nenhuma de nossas tradicionais, terríveis, absurdas e abjetas guerras, ditaduras, escravizações ou discriminações de humanos contra humanos, por mais duradouras e violentas que tenham sido, nunca torturou ou matou, nem de perto, a quantidade de animais que torturamos e matamos em um único ano. Não há como não se concluir, por simples aritmética, que o modo como exploramos os animais é a maior e mais duradoura chacina da história e, ainda, de uma chacina pacificada na maior parte das mentes humanas.

 

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