O Zen e a arte de enganar crianças (Crônica, 2013)




- Fui até meu professor com nada e voltei com nada.
- Por que se dar ao trabalho de ir ter com o professor, então?
- De que outra forma eu saberia que fui com nada e voltei com nada?
Conversa entre dois antigos mestres Zen

Apresento uma experiência real: um modo de enganar crianças ao mesmo tempo em que as presenteia com algo nobre. Em suma, um texto sobre educação.
Certa vez fui a uma festa infantil. Sem pensar muito, fui sem presente. Esqueci-me desse pequeno acordo social.
Eis que a criança, coitada, ao me cumprimentar, manifestou seu pedido (nessa idade ainda temos a honra de ir direto ao ponto). De improviso, me resolvi...
Estendi uma de minhas mãos fechada e disse:
- Seu presente está dentro desta mão. Bata nela para abrir.
A criança, claro, apesar de um pouco desapontada com o tamanho do presente, meio desconfiada, meio ansiosa, bateu.
Abri a mão e, aí estava... o vazio!
A criança me olhou com olhar perdido e emendei:
- Isto aqui é um presente valiosíssimo: o vazio. Se você aprender a se contentar com o vazio, não dependerá de mais nada, de nenhum outro presente.
A criança, confusa, foi rapidamente embora brincar com seus semelhantes sem entender patavinas. Eu, por outro lado, apenas ri.
A risada, contudo, não era maldade.

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