Também Celebro (Poema, 2011)

Também Celebro
(um poema de inocência de um autor superado)

Dennis Zagha Bluwol, 2011

Para Walt Whitman


Também celebro.
Sofro mas celebro.
Sofrer e celebrar não se anulam e não extinguem o canto de louvor.

Poderia dizer que sou o solo, as águas, o ar, você.
Mas o que é o solo senão um assombroso amontoado de não solo?
Ser não sendo aponta para o fundamento de ser.

Não há crise de identidade.
Identidade é um sintoma da crise.
Isto sinto e disto sei.

Poderia celebrar você e o vento e a água por nos dependermos mutuamente. E celebro.
Mas atento-me mais para a existência que para a dependência.
Poderia nada haver, mas o existir foi concedido. Curvo-me.

Sei que nossas coisas são filhas das coisas da natureza.
Mas sei também que são diferentes e nos moldam diferentemente.
Sei que barulho e silêncio coexistem. Respeito.
Mas silêncio e barulho nos moldam diferentemente.
E sei que o barulho da natureza não é barulho.
E o das máquinas é.

No instante em que escrevo e contemplo nesta beira de lago, o vento enrijece-se e lava minha face semeando verdades.
As águas se agitam e os gansos celebram.
A água acelerada, sob os raios de sol, produz infinitos pequenos brilhos, móveis, transitórios,
Como se os seres das águas estivessem em procissão, com infinitas velas, em uma cantoria que nem todos conseguem ouvir.

Irmã pomba que cruza minha visão enquanto escrevo neste chão: não sou tão diferente de ti.
Vivendo, garantindo a vida, bebericando água na beira do lago.
Sinto tua alegria e satisfação, afastando-se do lago aos pulinhos, rumo à sombra sob o arbusto.
Ambos escolhemos estar agora no lago, longe do concreto.
Não desperdiças teu tempo civilizando-se.
Eu te amo também por isto.

E o cisne, tão incrível,
Travesseiro de si mesmo,
Descansa à margem,
Enquanto todos caminham.

Também sinto a morte e sua presença.
Penso a finitude e sei que é um pensar, e que a vida é maior e o existir maior ainda.

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